Grifes estão de olho no guarda-roupa mirim

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Riachuelo: Criança — camiseta listrada, R$ 49,90; saia de plush, R$ 19,90 | 

Adulto — calça, R$ 59,90; casaco de viscose, R$ 79,90; cachecol, R$ 29,90.

Vestidos rodados, sapatos estilo boneca e camisas polo. Foi-se a época em que as roupas de criança eram todas iguais. Aos poucos, essas peças mais óbvias foram ganhando a companhia de uma impressionante variedade de artigos, que inclui atualmente itens como saia de veludo, calça jeans skinny, tênis descolados e até sapatos de salto alto. Sim, demorou, mas o mundo fashion finalmente resolveu dar a devida atenção à turma do tamanho PP.
O mercado paulistano é um dos melhores termômetros do fenômeno. Nos últimos três anos, mais de uma dezena de grifes que têm lojas na capital passou a investir também nos consumidores mirins — nomes como Aramis, Lacoste e Fit, entre outros. Com isso, o que era um nicho comercial virou um negócio relevante, que fatura cerca de 4,5 bilhões de dólares por ano e corresponde hoje a 15% do total das vendas do setor no país. “A tendência é que essa participação aumente ainda mais”, afirma Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Em 2011, enquanto as vendas da indústria nacional do vestuário devem ficar estagnadas, a área de moda infantil promete crescer 6%, segundo estimativa da entidade.
Somente no mês passado, dois grandes eventos dedicados exclusivamente à moda infantil ocorreram na cidade. Realizada entre os dias 18 e 21 no Expo Barra Funda, a feira Ópera recebeu 6.000 visitantes e movimentou 210 milhões de reais, 50% a mais que na edição anterior, em janeiro. Entre as 100 marcas nacionais e internacionais participantes estavam Diesel, Calvin Klein, Tommy Hilfiger e VR Kids. Duas apresentaram roupas para meninos pela primeira vez: Aramis Boys e Levi’s Boys.
Do outro lado da cidade, o Terraço Daslu, na Vila Olímpia, sediou o evento Zero a Doze, com os lançamentos de verão de 65 grifes como Ronaldo Fraga para Filhotes, Fábula (a irmã caçula da carioca Farm) e Reserva Mini, também do Rio de Janeiro, especializada em moda masculina. “Nossa linha infantil é um sucesso”, comemora Rony Meisler, diretor criativo da Reserva. Na última quinta (30), ele inaugurou a chamada loja-conceito da grife, na Rua Bela Cintra, com investimento de 600.000 reais e um andar inteiro destinado às peças da coleção kids. Ainda neste ano, pretende abrir uma unidade só para os pequenos no Shopping Iguatemi.

Sergio K.: Criança — camiseta de algodão, R$ 79,00; calça jeans, R$ 180,00 

Adulto — camiseta de algodão, R$ 140,00; calça jeans, R$ 298,00. 

Além de porem na praça uma variedade bem maior de itens, as empresas sofisticaram o acabamento dos produtos. “Os tecidos mudaram, tornaram-se mais elegantes e adaptáveis”, diz Uri Dayan, proprietário da Tyrol, fábrica de vestuário infantil que está há quarenta anos no mercado. “Isso sem perder o conforto, fundamental para esse público”, completa. A marca acaba de anunciar uma parceria com a estilista paulistana Clô Orozco. A coleção Huis Clos + Tyrol será lançada em setembro e terá trinta modelos — macacões, calças e blusas em tons de off-white, azul-marinho e vermelho. “As crianças hoje têm informação e opinião”, avalia o empresário Frederico De Cunto, organizador da feira Ópera. “Elas não querem mais roupas diferentes das dos adultos.”
Conquistar essa meninada exigente, porém, não é exatamente uma brincadeira. Há um mês, a equipe do Shopping Cidade Jardim organizou um encontro sob medida para fidelizar as clientes de 8 a 13 anos. Cheeseburger, batata frita e pocket show da cantora teen Manu Gavassi faziam parte do cardápio do evento. Joias da caríssima Tiffany & Co. também. Cerca de trinta meninas concorreram a quatro itens da famosa joalheria americana. Acostumadas a lidar com computadores, BlackBerries, iPhones, iPads e afins, muitas ficaram hipnotizadas pela caixinha azul que já fazia brilhar os olhos de Holly Golightly, personagem de Audrey Hepburn no filme “Bonequinha de Luxo”. Uma das presentes, Maria Fernanda Martins, de 9 anos, não levou o cobiçado brinde, mas saiu do shopping com as unhas pintadas de verde. “Adoro me arrumar”, dizia ela, usando lenço de oncinha no pescoço, relógio de strass e bolsa de paetê.
A euforia criada pela possibilidade de lucrar alto com essa fatia de consumidores já provocou alguns exageros. Em abril, por exemplo, algumas unidades das Lojas Pernambucanas colocaram em suas prateleiras sutiãs com bojo de espuma e estampas de personagens da Disney… para meninas de 6 anos. A justa reação foi tão grande que a empresa teve o bom-senso de voltar atrás e tirar os produtos de circulação. Para muitos pedagogos e psicólogos, esses tipos de peça têm o risco de provocar uma “adultização” dos pequenos, fazendo com que eles pulem fases essenciais no desenvolvimento, como a pré-adolescência. Para a consultora de moda Gloria Kalil, a regra básica no equilíbrio consiste em tomar cuidado para que a criança não deixe de parecer criança. “Nada de alça fina, cintura marcada e produções com ar sexy”, recomenda.

Fit: Criança — vestido de viscose, R$ 330,00 

Adulto — vestido de viscose, R$ 477,00; cachecol, R$ 108,00.

No exterior, estilistas importantes como Marc Jacobs e Stella McCartney já apostam nos minifashionistas. Por aqui, modelinhos internacionais podem ser encontrados em multimarcas como a Piks, no Iguatemi, que recheia suas araras com John John Jeans, Ralph Lauren Baby e Little Marc by Marc Jacobs. “Já tínhamos as linhas feminina e masculina e queríamos completar o lifestyle da marca”, diz Carolina Herrera Jr., que em 2009 resolveu expandir para garotas e garotos as criações de sua mãe (aqui, podem ser encontradas na loja do Shopping Cidade Jardim). Ainda neste ano, a italiana Gucci lançará na cidade suas versões para bebês e crianças.
Em muitos casos, os preços das roupinhas são inversamente proporcionais à quantidade de tecido. Um gracioso vestido curto de veludo e mangas compridas da Cris Barros Mini sai por 398 reais. Há três meses, peças assinadas por ela ganharam preços mais acessíveis. Isso graças a uma parceria com a rede Riachuelo. Itens disputados pelas adultas passaram a ter cópias minúsculas. Foi o caso do vestido de renda (99,90 reais), do colete de moletom com capuz (59,90 reais) e da blusa listrada em preto e branco (49,90 reais). “Criei essa linha pensando nas meninas e mães que são muito informadas, mas não tinham acesso à minha marca”, explica Cris Barros.

VR: Criança — camisa polo, R$ 159,00; calça jeans, R$ 159,00 

Adulto — camisa polo, R$ 229,00; calça jeans, R$ 279,00. 

As novidades mirins da estilista (que, aliás, também desenha roupas para recém-nascidos e meninos) são desfiladas duas vezes por ano na Fashion Weekend Kids, a semaninha de moda paulistana. Durante o evento, cuja próxima edição está marcada para setembro, doze marcas mostram seus looks nas passarelas. “Há fila de espera para participar”, garante a organizadora Ana Cury. Para ela, investir na garotada é aposta certeira. “A criança que começa a usar uma marca hoje pode se tornar uma consumidora fiel amanhã”, diz. Ou seja: pequenos clientes, grandes negócios.

Maria Bonita Extra: Criança — vestido estampado, R$ 357,00 

Adulto — casaqueto estampado, R$ 467,00; calça jeans, R$ 288,00. 

Thelure: Criança — colete, R$ 215,60; vestido, R$ 226,80 

Adulto — colete, R$ 336,00; vestido, R$ 344,40.

Cris Barros: Criança — vestido de jérsei, R$ 193,20 

Adulto — vestido de jérsei, R$ 837,90. 

Gant Masculino: Criança — camisa social, R$ 249,00; calça jeans, R$ 330,00 

Adulto — camisa social, R$ 424,00; calça jeans, R$ 478,00.

Daslu Feminino: Criança — vestido de tweed, R$ 270,00 

Adulto — vestido de Lycra, R$ 160,00; casaco de tweed, R$ 890,00. 

Fonte: Veja São Paulo por Giovana Romani (Produção: KiKi Romero e Tati Amaro) | 06/07/2011
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